domingo, 27 de março de 2011

Sobre a vida, ou coisa assim...

Hoje soube da morte de José Comblin, grande teólogo, humanista, um homem do povo, que viveu para povo, que sofreu demais por defender seus ideais e que aos 88 anos descansou, creio eu, na tão merecida paz. Acidentalmente, enquanto procurava notícias sobre o falecimento do teólogo belga que faleceu no interior na bahia, li uma notícia sobre uma atriz que caiu/se jogou/deixou-se cair do sétimo andar de seu prédio e faleceu em consequêcia disso. Já em outro evento, enquanto minha mãe me visitava em minha casa, ela me notificou sobre o falecimento de uma vizinha dela, que eu não me lembro, mas que talvez eu tenha visto em algum momento. Trata-se de uma menina de 14 anos que lutou e não resistiu a um câncer, que sofreu demais, e tendo experimentado pouquíssimo da vida, deixou de viver.
Esses três eventos quando pensados em conjunto, me intrigaram. Eu senti muito pelo falecimento de Comblin e da garota que morava próxima à minha mãe, mas a morte da atriz não me afetou. Isso me fez pensar sobre os limites da minha humanidade, pois eu percebi que morte só é morte na medida em que se aproxima de mim. Comblin, por mais que eu nunca tenha conhecido, deixou palavras que eu leio e admiro. A menina de 14 anos mora logo ali, ficou doente e alguns meses depois deixou esse mundo. Mas a atriz, essa não se aproxima de mim de maneira alguma. Ela não é alguém que morreu, é uma notícia de morte.
O que realmente pensar sobre isso? Procuro palavras: impotência, limites, sentimento, tempo, vida, fim. Não encontro respostas. Não quero realmente encontrar respostas. Uma coisa certamente sei que quero: repensar meu conceito de “ser humano” e ser “humano”.
Ironicamente tento (ou não) entender:
“Melhor é a boa fama do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém. Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria” (Livro de Eclesiastes. Cap. 7, Versículos 1-4).

domingo, 16 de janeiro de 2011

O GRANDE PROBLEMA (E O PROBLEMA MAIOR DO QUE ELE)

Quando me perguntam sobre a teologia não tenho problemas em aceitar que ela é inútil. Aliás, considero tal aceitação um princípio importante para todo profissional da área de humanidades. É importante para o teólogo – bem como para todo acadêmico – saber que seu trabalho não está mudando o mundo (e mesmo que pareça estar sempre há uma insignificância a ser levada em conta).
No entanto, fico nervoso com a impotência da religião e dos religiosos. A religião está no mundo e deveria subsistir para ele. Mas o que acontece é que a religião só existe para si própria bem como os religiosos para seus próprios umbigos. É hora das igrejas abrirem suas portas, mas não para que as pessoas entrem e sim para que elas saiam e sejam religiosos no mundo.
O grande problema é que mesmo deixando a questão da religião de lado o ser humano continua sendo um perito observador de seu próprio umbigo. Há mais coisas a serem vistas!
A face do outro está esperando para ser fitada, e sendo fitada pode até mesmo ser encarada e assim a percepção da humanidade do ser humano é inevitável.
Ou seja, há um problema maior do que o grande problema: o ser humano tem sido inútil (no pior sentido do termo). O ser humano não tem sido humano. O ser humano assiste Big Brother, lê Paulo Coelho, ouve Luan Santana; faz coisas inacreditáveis.
Assim, só me resta pensar que a religião e nossa sociedade são espelhos, um de fronte ao outro. Em ambos o que pode ser visto é uma reprodução infinita da mesma coisa, sem sentido, sem razão, mas com opção: a opção de ser humano – ser ser humano.




Texto de: ELTON SADAO TADA (sempre desapontado com alguma porcaria do ser humano)