Como teólogo eu me sinto muito vezes meio caça-fantasmas. É, pode parecer um tanto quanto engraçado, mas isso é chato. Não tem coisa mais chata do que perseguir coisas que você não vê, para tentar evitar o mal que essas coisas fazem e sem ganhar nada em troca. E realmente não se ganha nada em troca, pois às vezes as pessoas querem fantasmas em suas vidas, nem que seja só pra dar um pouquinho de “emoção”.
Mas na verdade eu sei que não persigo fantasmas. Aliás, os deixo bem à vontade, pois são parte de um imaginário popular bastante válido. Isso é folclore e folclore é bonito. Esses fantasmas que penso perseguir são na verdade deuses. Aí a coisa fica mais séria. Caçar e matar algum tipo de deus não são práticas muito bem-vistas em nossa sociedade. As pessoas até aprender a escrever NIETZSCHE, só pra dizer que o coitado queria matar Deus. Mas isso não é verdade. Ninguém matou Deus. Deus não morre, ele não é vivo, não tem como morrer (se algum dia te disseram que Deus é onipotente, pode esquecer... morrer ele não pode!). Mas deuses morrem!
Nietzsche disse que “o velho Deus morreu”. Esse morreu mesmo. Mas não é esse o ponto. Meu problema é relacionado com os deuses jovens. Sim, deuses playboys, bombados e que são popstars. Eu não gosto de popstars em geral, mas com certeza odeio deuses popstars. Você não entende o que eu estou dizendo? Vejamos: temos deuses médicos; deuses empresários; deuses psicólogos; deuses marxistas (e olha que esse também é pop); e não posso esquecer de citar o deus fashion (ele também veste Prada).
Como eu disse, esse trabalho é chato. Eu não queria ter que falar sobre isso. Mas a presença deles é tão angustiante que me dá até dor no hipotálamo (essa é boa, mas não fui eu que inventei... mas me disseram que deveria ser uma dor 70 vezes pior do que chute do Roberto Carlos no saco). Enfim, qual o problema desses deuses? Eles causam miséria. Miséria de verdade.
Mas na verdade, se pensarmos bem, esses deuses não existem desde antes da fundação do mundo. Ele não criaram o mundo. Eles foram criados junto com o mundo que a nossa sociedade criou. Mas não vá jogando a culpa na sociedade, pois eles nem existiriam se nós não os adorássemos todos os dias. Por exemplo, eu tenho gastrite. Disseram-me que saiu na ‘Veja’ que tomar coca-cola não faz bem; disseram-me que eu deveria pedir uma oração pro pastor; que eu devia até colocar um copo d’água em cima da Tv, orar com o R.R. soares e depois beber a água (isso não é totalmente ruim, porque beber água é bom mesmo...); disseram-me que eu deveria ter um plano de saúde; disseram-me que gastrite não é nada, eu deveria era estar preocupado com os pobres que estão morrendo de fome. Todas essas coisas são verdades. Verdades impostas por deuses, mas impostas por deuses que foram criados por homens. Então, eu não deveria estar preocupado em matar deuses, mas em matar homens. Olha, pra isso eu não tenho muito estômago.
Sempre há uma solução, mesmo que essa seja inútil. Sabe o que eu percebi? Os homens só criam deuses porque se confundem. Eles acham que são Deus. E assim se tornam deuses. Então, o que se pode fazer para acabar com esse círculo vicioso que lança constantes imperativos em nossas vidas? A única alternativa que me vem à mente é fazer com que os seres humanos sejam humanos. Mas como posso olhar pra alguém e dizer: opa! Tudo bem? Você sabia que você não é um deus?
Olha... depois de refletir bastante chego à conclusão: talvez... talvez isso seja pedir demais...
texto por: ELTON SADAO TADA